sábado, 4 de abril de 2009

MAIS UM

Hoje celebro ser mais um, mais um no meio de tantos outros, tantas raças, cores, crenças, sou mais um no anonimato, no meio da multidão, gritando sem ser ouvido, chorando minhas dores, sorrindo minhas felicidades. Na esquina, parado, encostado em um poste, passo por despercebido, mas nem por isso fecho meus olhos ao mundo, vejo então, do outro lado da rua, uma bela donzela que aguarda tremula e com suor nas mãos frias o jovem rapaz, uma mãe passeando com seu lindo bebê de bocheches rosadas e cabelos de fios de ouro, crianças na praça ao lado brincando de pega-pega, pique - esconde, pipa e amarelinha o moço do sorvete alegra o domingo ensolarado. Vejo uma senhoria infeliz que passeia com seu cachorro e uma sacola cheia de pães, o mendigo esfomeado que chora com suas crianças pela misericórdia de um prato de comida. A prostituta que aborda os três rapagões que por ali passavam lhe dizendo “vamos gozar gostoso garotões”. As freiras sofrendo as dores dos moribundos. Há também as futilidades particulares dos sapatos de 100 mil dólares e os Incorruptos Corruptíveis. Nestas dezenas, centenas e milhares que estou, estou em um mundo que por sua vez é amável, e que noutra hora se torna sujo, vulgar, falsário.
Sou mais um condenado a viver dentre milhões de destinos deturpados, confusos, sem anseios e desejos. Sou mais um passando por despercebido e que mesmo assim sofre as interferências dos destinos alheios, dos famintos por vida, dos desejos recalcados.



São Paulo, 04 de Abril de 2009
Marco Salera Castro